O Estado de S. Paulo
As questões envolvendo mobilidade urbana ficam evidentes nas grandes cidades, com o crescimento do número de aplicativos e alternativas de transporte que representam quase sempre ganho em qualidade de vida. São apps de carona, compartilhamento de veículos, aluguel de carros entre outros. Todas essas novas tecnologias, contudo, ainda guardam uma característica em comum: possuem os automóveis como pilar central de sua atividade econômica. Por essa razão, pode-se prever que os veículos ainda continuarão a fazer parte da vida das pessoas por muitos anos.
Somente em São Paulo, cerca de 30% da população se locomove de carro. É um número semelhante à parcela que utiliza transporte público ou prefere caminhar. Esta realidade ocorre por conta da distância entre onde as pessoas moram e as oportunidades de trabalho, serviços e lazer. Enquanto Paris e Barcelona, por exemplo, possuem densidade populacional superior 17 mil pessoas por quilometro quadrado, no Brasil, todas as cidades possuem índices abaixo de 8 mil – e o resultado dessa equação é uma grande necessidade de deslocamento diário e concentrações populacionais que variam de lugar durante o dia. Cerca de 70% dessas viagens são ocasionadas pela busca de escola e trabalho. Logo, estacionar o carro num lugar próximo do destino se tornou uma grande necessidade ao longo dos anos, o que reforça a premente necessidade da calibragem do atual Plano Diretor Estratégico (PDE).
Com este cenário, os estacionamentos sempre foram considerados um dos grandes vilões do trânsito intenso, já que se atribui ao maior número de estabelecimentos o crescimento da frota de veículos. É uma visão equivocada, já que os usuários do serviço mantêm o carro parado durante a maior parte do dia, diferentemente dos veículos usados para transporte de passageiros, que circulam pela cidade o dia todo. É preciso também lembrar que os estacionamentos atendem a uma demanda secundária.
Os carros são um dos principais motores da economia e as pessoas os utilizam porque precisam;
Estacionar o carro num lugar próximo do destino se tornou uma grande necessidade ao longo dos anos, o que reforça a premente necessidade da calibragem do atual Plano Diretor Estratégico (PDE).
Seja como uma alternativa mais independente de deslocamento, mais rápida, barata ou prática, de acordo com a necessidade de cada um. Para abolir de vez o uso dos automóveis particulares, precisamos de alternativas melhores e que atendam a todas as classes sociais. No que diz respeito ao transporte público, ainda estamos muito longe desta realidade.
Neste contexto, os estacionamentos são de vital importância para atividade do comércio em várias regiões da cidade, evitando o surgimento de zonas decadentes e garantindo a praticidade econômica e valorização de diversos endereços. O setor vem crescendo mesmo com a crise. O número de funcionários quase dobrou entre 2007 e 2015. Já a receita cresceu quatro vezes, superando R$ 2 bilhões de faturamento anual.
É uma realidade que deve se manter mesmo com o crescimento das novas tecnologias, uma vez que os estabelecimentos estão se modernizando e se adaptando aos novos hábitos do consumidor. No futuro, veremos os estacionamentos não só como como um lugar para deixar nossa propriedade, mas como locais para carregamento de carros elétricos, ponto de coleta e devolução de automóveis compartilhados e manutenção de veículos autônomos. E por que não imaginar que um dia eles também sejam utilizados como pontos de pouso e decolagem dos carros voadores?
*Marcelo Gait é presidente do Sindicato das Empresas de Estacionamentos e Garagens do Estado de São Paulo (Sindepark-SP). (O Estado de S. Paulo)