No caminho da sustentabilidade

O Estado de S. Paulo

 

Desde 1º de janeiro de 2017, todas as máquinas agrícolas com potência superior a 75kW (101cv) até 560kw (761cv) seguem ao Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores para Máquinas Agrícolas e Rodoviárias (PROCONVE MAR-1), que estabelece novos índices de emissões de poluentes. “Ele se dividiu em duas etapas, a segunda fase entra em vigor em 2019, ano em que 100% das máquinas produzidas no Brasil deverão estar dentro da norma”, diz Ana Helena Correa de Andrade, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

 

O Brasil é pioneiro na América Latina na aplicação deste tipo de legislação. O MAR1 traz índices de emissões semelhantes ao TIER 3, programa de prevenção de poluição adotado no continente europeu. “Europa, Japão e EUA atualmente utilizam motores ‘Tier 4 Final’, e estão caminhando para o ‘Tier 5’ em 2019”, diz Ricardo Huhtala, diretor da AGCO Power, marca de motor do grupo AGCO. “Os nossos motores são utilizados como base para tecnologias mais aprimoradas nesses países, já que estão dois estágios na nossa frente”, acrescenta.

 

Para atender à norma, as montadoras investiram em seus centros de desenvolvimento no País. A AGCO Power, que tem fábrica em Mogi das Cruzes-SP, aportou R$35 milhões em um laboratório de controle de emissões. “Com a instalação, ganhamos em qualidade, em prazo e custos por poder testar e avaliar os motores ‘em casa’ logo após sua produção”, diz o diretor. A FPT, empresa do grupo CNHi, usou o pessoal de engenharia do centro de desenvolvimento de Betim-MG para aprimorar as tecnologias dos novos motores.

 

O MAR-1 define índices de redução de gases poluentes como monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC), óxidos de nitrogênio (NOx) e material particulado (MP). Estes produtos da queima de combustível são danosos ao meio ambiente e ao ser humano podendo causar problemas respiratórios como irritação das mucosas, asma, bronquite, enfisemas, entre outros. As montadoras utilizaram duas tecnologias para contemplar a legislação: o sistema EGR (Exhaust Gas Recirculation), e o SCR (Selective Catalityc Reduction).

 

No EGR, ocorre recirculação dos gases para dentro do motor com objetivo de reduzir a temperatura da câmara de combustão. “O oxigênio é o grande vilão, pois quando levado a altas temperaturas permite a formação de óxido de nitrogênio (NOx)”, explica Gustavo Teixeira, especialista da FPT em homologações. “Os gases resultantes da queima do combustível são introduzidos na câmara para reduzir a produção de NOx”, acrescenta. É uma tecnologia extremamente simples – assim que o motor é ligado, ela passa a funcionar – e pode ser aplicada em sistema de injeção eletrônica.

 

Já no SCR, o controle das emissões é feito no escapamento da máquina com a utilização do reagente químico ArlaA 32, composto por água des mineralizada e 32% de ureia. O gerenciamento eletrônico dá mais eficiência ao motor, que trabalha com temperatura mais alta na câmara de combustão, tornando a queima de combustível mais completa e reduzindo a produção de material particulado. Após a combustão, os gases resultantes seguem para o catalisador, onde um sensor mede o nível do NOx. Se estiver acima do permitido, uma bomba é acionada e injeta o Arla 32 neutralizando os poluentes por reação química. Tudo funciona automaticamente sem a interferência do operador, que só precisa ficar atento para abastecer o tanque do Arla, diferenciado do recipiente do diesel pela cor azul. Também é importante abastecer a máquina apenas com diesel S500, que contém menos enxofre.

 

Além das vantagens ambientais, a nova legislação traz vantagens técnicas às máquinas. Os equipamentos, que passaram a utilizar sistemas de injeção eletrônica, proporcionam o uso de tecnologias de diagnóstico de falhas e controle de manutenção. Também houve melhora de potência e torque. Segundo o especialista da FPT, as máquinas da marca tiveram um aumento médio de 7% em potência e 14% em torque.

 

Quanto ao meio ambiente, seis máquinas que obedecem ao MAR-1 emitem o mesmo nível de poluentes que uma máquina sem a tecnologia. “A redução da emissão de poluentes pode chegar a 90%. No caso do óxido de nitrogênio (NOx), a dedução é de 75% e, em material particulado, 85%”, finaliza o executivo da AGCO Power. (O Estado de S. Paulo)