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Resultado da terceira etapa do projeto: borracha reciclada. Imagem: Marcos Massa

Desde agosto de 2011, a operação de produtos para vedação do Complexo Industrial da Dana em Gravataí, no RS, passou a reciclar cerca de 50% de todo resíduo de borracha gerado na fábrica. Uma iniciativa louvável que só foi colocada em prática graças à persistência de uma equipe determinada e consciente de seu papel na preservação do meio ambiente.

A legislação permite que os resíduos de borracha sejam enviados para um aterro homologado. Apesar disto, sempre buscamos alternativas mais eficazes e que causassem o menor impacto ambiental possível. A solução foi encontrada na prática dos 3Rs: reduzir, reutilizar e reciclar.

Tudo começou há mais de 10 anos, quando, alinhados com nossa Política Ambiental, buscamos reduzir o impacto ambiental de nossas operações e começamos a buscar alternativas para reciclar as peças sucateadas e os resíduos de borracha. O primeiro obstáculo foi a legislação, que está muito mais voltada ao mercado de pneus. Segundo dados da ONG Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), em 2009, o índice de reciclagem de pneus no Brasil foi de 73%. Marco Antônio Menezes Bandeira, Coordenador de Engenharia de Produto, na Dana há 10 anos, explica que a maioria das empresas de reciclagem prefere trabalhar com pneus por serem mais homogêneos, com menor variedade de tipos de elastômeros e mais facilidade de processamento. “Enquanto são usados de três a quatro tipos de elastômeros na produção de pneus, são usados de 10 a 15 tipos de elastômeros em nossas peças. Em função disto, era muito difícil encontrar uma empresa capaz de processar a variedade de compostos e formatos contida em nossas peças”. Também existiam impedimentos técnicos nos equipamentos das empresas recicladoras para receber peças com componentes de metal/borracha, que poderiam causar danos ou mesmo quebrar os equipamentos de reciclagem.

Uma reciclagem parcial já se fazia: uma quantidade de rebarba (sobras) era transformada em pó e reutilizada para fabricar outras peças, sempre mantendo as propriedades e sem afetar a qualidade dos produtos. Mas, ainda assim, era uma parte pequena e a equipe continuou a busca por alternativas. Foram várias tentativas e vários foram os problemas encontrados. Certas empresas se interessavam pela reciclagem, mas não preenchiam as exigências técnicas e legais. Em outros casos, as exigências eram atendidas, mas o custo financeiro era muito alto e inviabilizava o projeto. Sheila Castro, Gerente Regional de Meio Ambiente, Saúde, Segurança e Risco, na Dana há 18 anos, ressalta a dificuldade em encontrar a parceria ideal. “Era muito difícil encontrar uma alternativa que aplicasse o triângulo da sustentabilidade: ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável”.

Enquanto a solução desejada não era encontrada, a equipe do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e a equipe da operação seguiam trabalhando no primeiro dos 3Rs: a redução da geração de resíduos. Novas tecnologias, novos tipos de moldes, novos parâmetros de produção e uma série de outras ações foram implementadas e fizeram com que a geração de resíduos fosse bastante reduzida. Mas a geração de resíduos sempre persiste, por melhor que seja o processo de manufatura. A busca não pode parar.

Reforçamos também o segundo R: a reutilização da borracha no próprio processo fabril. Desenvolvemos novas alternativas, como reaproveitar os resíduos não-vulcanizados e incentivar os trabalhos voltados ao reaproveitamento. Com este foco, Davi Pessoa, Engenheiro de Produto, trabalhou no projeto “Avaliação da Influência do Pó de Borracha Reciclada nas Propriedades de Compostos de Borracha Natural para Peças de Engenharia do Setor Automotivo”, que recebeu o Prêmio “Gabriel Gueller de Melhor Paper de Meio Ambiente”, em 2010, no Congresso SAE.

Controle: apenas resíduos de borracha. Imagem: acervo Dana
Controle: apenas resíduos de borracha.
Imagem: acervo Dana

De qualquer forma, uma parte dos resíduos ainda não podia ser reutilizada. Depois de uma década buscando uma solução definitiva para o destino dos resíduos de borracha, o ano de 2011 trouxe a perspectiva de finalmente implementar o terceiro R: reciclagem dos resíduos. A empresa Batistella , situada em Nova Santa Rita, RS, e atuante no segmento de reciclagem de pneus há mais de 40 anos, resolveu abraçar a causa e comprou a ideia de reciclar os resíduos de borracha oriundos de nosso processo produtivo.

Foram seis meses de reuniões técnicas, auditorias, análise de amostras e adaptações no processo fabril. Antônio Teixeira, Gerente de Qualidade de operação em Gravataí, há 15 anos na Dana, destaca que havia uma meta em comum entre as duas empresas: o compromisso com o meio ambiente. “A Batistella abriu as portas para nossos técnicos, demonstrando muito interesse em reciclar os nossos resíduos. Em contrapartida, nós nos comprometemos em enviar apenas os resíduos de borracha, sem nenhum componente de metal, requisito imprescindível para preservar o meio ambiente e garantir a integridade dos equipamentos da Batistella”.

Todos os colaboradores da operação aderiram ao projeto. Lideranças, operadores de máquinas, terceiros e até fornecedores. Todos se conscientizaram da importância da separação da borracha dos metais. Nenhum parafuso poderia ser colocado por engano dentro das embalagens que iriam para reciclagem, o que poderia colocar em risco todo o projeto. Cássio Rolim da Silva, Técnico de Manufatura, na Dana há 11 anos, conta que o monitoramento passou a ser diário. “Como eu trabalho diretamente na fábrica com os operadores, tento sempre conscientizar os colegas sobre a importância deste projeto. Na leitura do boletim semanal também lembramos o pessoal sobre a atenção que temos que ter neste trabalho de separar a borracha do metal”.

Ricardo inspeciona pessoalmente a caçamba com resíduos. Imagem: acervo Dana
Ricardo inspeciona pessoalmente a caçamba com resíduos.
Imagem: acervo Dana

Ricardo Fontana de Lima, Analista de Produção e Qualidade, com 29 anos de Dana, acrescenta que os operadores de máquinas foram treinados para colocar os resíduos em sacos plásticos transparentes que são imediatamente lacrados assim que ficam cheios. “As embalagens são fechadas e recolhidas pelos auxiliares de coleta seletiva que levam os sacos até uma caçamba criada especialmente para acondicionar os resíduos. Diariamente, faço uma inspeção na caçamba até que fique cheia”. Depois a equipe do SGA é acionada para fazer a conferência nas embalagens e liberar o envio para a Batistella. Quando os resíduos de borracha chegam na Batistella, finalmente são reciclados e usados, principalmente, na construção de campos de futebol.

Hoje, cerca de 50% dos resíduos de borracha gerados na operação está sendo enviado para reciclagem. Mas a parceria não para por aí. Estamos estudando incorporar outras linhas de produção ao projeto. Na outra ponta, a Batistella também está se preparando para receber uma carga ainda maior.

A vontade de uma empresa em ter a Dana como cliente e a satisfação da Dana por ter encontrado uma solução definitiva junto a Batistella para reciclar os resíduos de borracha resultou numa parceria que está motivando os colaboradores das duas empresas e promete resultados ainda mais positivos. Neste processo de ganha-ganha, quem mais ganha é o planeta.