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Lendas brasileras
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

Noite alta, sem estrelas, vento forte e uma chuvinha fina sobre a pequena e deserta cidade. Um homem caminha depressa pelas ruas mal-iluminadas. De repente, ele para. Atento, parece escutar melhor algum ruído distante. Ou… próximo demais. Sente que alguém, ou alguma coisa, está perto. Vigiam-no. Ansioso, apressa o passo.

Mas, quanto mais rápido caminha, maior é o pavor que toma conta da sua alma. Olha para trás. Não há nada na rua vazia. Tropeça na calçada e cai. Levanta-se sujo de barro e, completamente apavorado, começa a correr o mais que pode. O coração parece querer sair pela boca. Tem certeza de que algo o persegue. E, na esquina escura, vê o vulto.

A visão é rápida, mas o suficiente para eriçar os cabelos da nuca. Com um arrepio na espinha, congelado de pavor, ele ouve um rosnar. É o Lobisomem! Ele sente que está prestes a tornar-se vítima da fera. Entra em pânico, grita por socorro e procura um refúgio, rezando e chorando pelo Divino. Inutilmente.

Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

Quando percebe, está encurralado diante de uma cerca ou um barranco. Não importa. De joelhos, olhos cheios de lágrimas, em soluços, ele vê a criatura surgir da escuridão. Rosnando, dentes à mostra, a besta caminha vagarosamente em direção da presa. O homem sabe que está indefeso. Um bote, uma só dentada. Direto no pescoço. Carótida em frangalhos, a vítima jaz prostrada. Sobre ela, refestela-se em sangue o Lobisomem.

Depois, meio bicho meio gente, a fera parte em desabalada correria. Tudo que se move, homens ou animais, é atacado. Até que, ao primeiro cantar do galo, saciada sua sede, o Lobisomem retorna ao lugar da transformação. Lá, vagarosamente, vai reassumindo sua condição humana. A fera volta a tornar-se homem. Um homem cansado, com cotovelos e joelhos ensopados de sangue. Um homem solitário que se recolhe nessa condição à espera da próxima noite de quinta para sexta-feira, quando ocorrerá outra transformação.

Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

A exemplo da Mula-Sem-Cabeça, um ferimento que derrame o sangue do Lobisomem quebrará o encanto. Dizem que o Diabo aparece nessa hora e lambendo o sangue da fera, considera cumprida a sina do infeliz, liberando-o da maldição. Outras versões afirmam que o Lobisomem se cura da maldição ao sugar o leite do seIo de uma mulher.

Origem da lenda

Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

A origem da lenda do Lobisomem remonta à Grécia Antiga. Espalhada pela Europa e América, a lenda do Licantropo Grego, do Versiopélio de Roma, do Loupgarou Francês, do Werwolf ou Werewolfe Saxão, Obototen Russo e Lobisomem Espanhol ou Português é uma das mais populares do mundo.

Características exclusivas do Lobisomem brasileiro são difíceis de definir, mas permanece digna de nota a facilidade de identificação da fera em seu estado normal, como homem. Nesses casos, apresenta-se como alguém muito magro, de pele clara e aspecto doentio de pessoa anêmica, que precisa de sangue para sobreviver.

Em geral, a sina é uma questão de sorte. Nasce-se Lobisomem, bastando para isso ser o sétimo filho homem. Em algumas regiões, este ser é resultado de uma ligação incestuosa; e a fatídica bala embebida em cera de vela santificada é um aspecto digno de observação, como forma de abater a fera.

As várias formas adquiridas – de homem-lobo, homem-cão, homem-porco, homem-bezerro, etc. – nos remetem à África, onde as transformações dos homens nos mais variados animais aparecem registradas por todo o continente. A lenda do Lobisomem não é, como tantas outras, genuinamente brasileira, mas merece estar aqui como uma das mais populares do país.

> Baixe aqui o painel da exposição

DobraDana

Você tem coragem de levar o Lobisomem para casa? É só baixar o PDF do DobraDana, imprimir e seguir as instruções de montagem e carregar no bolso esta assustadora história. Boa sorte!

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Na solidão da noite, ela surge na estrada pedindo carona. Uma freada instintiva e a moça já está ao lado do motorista, que não imagina a triste sina que carrega a Moça-Vestida-de-Branco.


Veja mais: Entrevista com o ilustrador, cartunista e quadrinista, Rodrigo Rosa