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O seis rodas: um desafio que acompanha a Fórmula 1. Imagem: acervo Lemyr Martins

A presença de Shahab Ahmed nos boxes da equipe Fittipaldi, no GP do Brasil de 1977 não chegou a despertar muita atenção. Baixinho, moreno e de acentuados traços semitas, era confundido com um possível sheik árabe, figura comum na paisagem do circo na época. Mas, da mesma forma que apareceu, Ahmed desapareceu, como era prudente para os planos automobilísticos secretos de Wilson Fittipaldi Júnior.

Em seguida, a Fittipaldi anunciou a contratação de Ralph Bellamy, o homem responsável pelos carros-asa da Lotus, para projetar o F-6, modelo do F-1 brasileiro para 1979, e ninguém mais se lembrou da exótica figura de Ahmed.

Shahab Ahmed era um engenheiro paquistanês naturalizado norte-americano, de 46 anos, que, pela dificuldade da pronúncia e conveniência, logo passou a ser chamado pelo codinome de Mister Xixis, pelos membros equipe. Xixis passou um ano confinado num apartamento em São Paulo, trabalhando num ambicioso projeto dos irmãos Fittipaldi: um protótipo de seis rodas, matéria na qual Ahmed tinha notório saber.

Embora desconhecido do público, Xixis tinha ótimas referências nos bastidores da Fórmula 1. Seu recomendável currículo começava na Fórmula 2, na qual projetou o TS14 para o Team Surtees, carro com o qual Mike Haillwood foi campeão em 1972. Mas não foi pelo sucesso na Fórmula 2 que Wilsinho foi buscá-lo na Tyrrell, escuderia em que Xixis trabalhava desde 1974, e onde tinha sido o braço direto de Derek Gardner – pai do Project P34, primeiro e único protótipo de seis rodas na história da Fórmula 1.

O investimento em Xixis fazia parte da aposta dos Fittipaldi nos carros de seis rodas. Um pioneirismo da Tyrrell, que surpreendeu o circo no lançamento do seu monstrengo em 1976. Não só pela meia dúzia de rodas, mas pela competitividade do P34, que marcou 71 pontos com os pilotos Jody Scheckter e Patrick Depailler, logo no primeiro ano, ficando só a 12 pontos da Ferrari, campeã mundial de construtores.

O investimento num protótipo de seis rodas não era um mero modismo do time brasileiro. Ele seguia na esteira dos demais construtores, porque os Fittipaldi sabiam que McLaren, Brabham, Ligier e Ferrari já tinham estudos avançados sobre a nova tendência. A March chegou a apresentar o modelo M-771, o “March Locomotiva”, um inviável protótipo de seis rodas com duplo eixo e tração nas quatro rodas traseiras, mostrado pelo projetista Robin Herd mais por galhofa que por intenção de viabilizá-lo.

Shahad Ahmed trabalhou um ano confinado na clandestinidade técnica, projetando uma obra que permaneceu inédita. Antes de o projeto passar para a fase da construção, Wilsinho descobriu que a Federação Internacional de Automobilismo, a FIA, iria limitar os carros da F-1 às quatro rodas, em 1978. Foi uma das poucas intervenções da FIA que os construtores saudaram com rojões. Pois, além das dificuldades técnicas, um F-1 seis rodas era caríssimo – razão de o Fitti seis rodas permanecer em segredo e Mister Xixis continuar no anonimato.