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Marcelo Galbetti, Claus Petersen, Tiago Flores, Wandy Doratiotto, Mario Manga e Orquestra da Ulbra - Foto: Marcos Massa
Marcelo Galbetti, Claus Petersen, Tiago Flores, Wandy Doratiotto, Mario Manga e Orquestra da Ulbra - Foto: Marcos Massa

Pense na fome de fazer boa música e levar instrumentos e arte para a rua. Em um grupo de artistas preocupados com a linguagem musical e o requinte de composições e arranjos. Combine performance musical e cênica, transformando a apresentação das canções em momentos antológicos. Coloque tudo no liquidificador e acrescente doses generosas de improviso e bom humor. O resultado é o caleidoscópico Premê, banda paulistana criada nos anos 70 por alunos da Escola de Comunicações e Artes da USP, a ECA. Com 37 anos de carreira, Claus Petersen, Marcelo Galbetti, Mario Manga e Wandy Doratiotto mostraram no espetáculo de encerramento da temporada 2013 dos Concertos Dana que seguem cheios de breque.

Acompanhados pela Orquestra de Câmara da Ulbra – anfitriã dos Concertos Dana – e pelos músicos Danilo Moraes (guitarra, contrabaixo e chocalho) e Emílio Martins (bateria e percussão), os Premês passearam pelo rico repertório de seus seis discos mostrando versatilidade. Os arranjos para orquestra foram um capítulo à parte: Alexandre Ostrowski, Arthur Barbosa, Arthur de Faria, Daniel Wolff, Iuri Correa, Pedro Figueiredo e Rodrigo Bustamante ampliaram o que já era grande.

Premês e maestro Tiago Flores - Foto: Fernanda Chemale
Premês e maestro Tiago Flores – Foto: Fernanda Chemale
Com o mestre Mario Manga nos vocais, a canção “Nunca” abriu o concerto. Nada mais apropriado do que este brega de vanguarda – do disco de estreia da banda, de 1981 – para dar o tom de uma noite que prometia. O show continuou com o carismático Wandy Doratiotto e seu xote “Lava Rápido”, do segundo álbum da banda,“Quase Lindo” (1983). O refrão “E funcionou, funcionou, funcionou”, funcionou mais do que você imagina.

A música seguinte trouxe a balada mais famosa do Premê: “Lua de Mel”, do LP “O Melhor dos Iguais” (1985), produzido por Lulu Santos. Marcelo Galbetti entoou os versos irônicos de uma época em que Cubatão era considerada uma das cidades mais poluídas do mundo. Tempos passados, diga-se – e ainda bem –, mas o alerta ainda ressoa assustadoramente atual.

A próxima canção foi composta por Mario Manga, a pérola “Padaria”, do disco “Grande Coisa” (1986). Foi o próprio Manga que passeou pela história deste sertanejo pop, recheado com cenas de um cotidiano hilariante. E é justamente este cotidiano, a crônica e o hilário ingredientes recorrentes nas composições do grupo.

Premês e maestro Tiago Flores - Foto: Fernanda Chemale

Premês e maestro Tiago Flores – Foto: Fernanda Chemale
O público se rendeu com a leveza da apresentação, assim como nos dois números seguintes: “Fim de Semana”, comandado por Wandy, e “Paixão nas Alturas”, na voz forte de Claus Petersen, mestre da flauta e do sax do grupo.

O espetáculo ganhou ainda mais intensidade com uma das canções mais emblemáticas do Premê, proibida pela censura: “Rubens”, com seu autor nos vocais. A obra de Mario Manga conta a história de um amor impossível entre dois rapazes – família, religião e AIDS são abordados. A música ficou ainda mais conhecida com Cássia Eller, que regravou “Rubens” em seu álbum de estreia, em 1990.

Momento de homenagem a dois mestres do Carnaval. A marchinha “Coração de Jacaré”, de J. Nunes e Dom Jorge, ganhou ritmo de reggae com direito a brincadeiras e figurinos no palco. Mario Manga segurou os vocais enquanto Wandy e Galbetti protagonizavam coreografias e arrancavam gargalhadas da plateia. Era visível o quanto os Premês se divertiam em cena, rindo de suas piadas internas e presenteando o público com um espetáculo leve, envolvente e extremamente alegre.

Esta atmosfera permeou o show inteiro, como na delicada valsa “O Destino Assim o Quis” – sucesso no início da carreira, mas somente gravada no álbum “Vivo” (1996) – e no animado samba “Grandes Membros”, do disco “Alegria dos Homens” (1991).

Em duas apresentações os Premês se superaram e relembraram tempos onde música, teatro e experimentações culturais se fundiam. Em “Marcha da Kombi” e “Balão Trágico” as performances cênicas fizeram parte do espetáculo e amplificaram o impacto das canções cujos versos soam atuais, apesar de tudo o que mudou no país nestes tantos anos.

Marcelo Galbetti e Wandy Doratiotto Foto: Fernanda Chemale
Marcelo Galbetti e Wandy Doratiotto
Foto: Fernanda Chemale
E claro que não poderia ficar de fora da noite a antológica canção da dupla caipira Alvarenga e Ranchinho, “Pinga com Limão”, que virou um rockabilly. Os merecidos aplausos renderam bis duplo, começando com o divertido jazz “São Paulo, São Paulo” seguido de uma reedição da contagiante “Fim de Semana”.

Este pessoal, ainda quase lindo, sabe mesmo das coisas: um presságio de um domingão com muito sol. Que legal.

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