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Da esquerda para a direita: Victor Hugo, Luiz Marenco, Tiago Flores e Maurício Marques - Imagem: Marcos Massa

A contagiante apresentação de três consagrados artistas da cena regional aqueceu e emocionou a noite de 17 de julho, em Porto Alegre. Nem a chuva, o frio e o vento minuano conseguiram impedir a presença do público apaixonado pela música nativista gaúcha no primeiro espetáculo da temporada dos Concertos Dana de 2011.

O violonista Maurício Marques e os cantores Victor Hugo e Luiz Marenco foram os protagonistas de um concerto que resgatou a forte herança cultural do povo gaúcho. Com mais de 20 anos de carreira, 20 discos lançados, Luiz Marenco é um dos principais personagens da música nativista do Sul do Brasil, verdadeira referência como intérprete do regionalismo gaúcho. Maurício Marques é uma virtuose no violão de oito cordas e desenvolve um repertório sempre voltado para o folclore gaúcho e brasileiro – um verdadeiro mestre da música instrumental, seguindo o legado de Geraldo Flach. E Victor Hugo é um intérprete reconhecido na música nativista com toques mais urbanos e veterano de festivais marcantes como a Califórnia da Canção Nativa, Musicanto Sul-Americano de Nativismo e Moenda da Canção.

Foi com essa mescla de estilos – as três vertentes da música tradicionalista gaúcha, conforme explicou mais tarde o maestro Tiago Flores – que o espetáculo iniciou com “Rancheirinha”, de Geraldo Flach e do próprio Maurício Marques, mais conhecida na interpretação de Renato Borghetti. A rancheira que tornou Flach conhecido foi pura delicadeza no violão de oito cordas de Maurício Marques. O tema instrumental devagarito, no más, com seu violão de oito cordas, é uma rancheira delicada e excelente maneira de iniciar o show.

O virtuoso Maurício Marques - Imagem: Marcos Massa
O virtuoso Maurício Marques – Imagem: Marcos Massa

Em seguida, era a vez de “Novos Tempos”, de Maurício Marques, outro tema instrumental que foi arranjado para o Concertos Dana pelo próprio compositor, que tem vasto conhecimento musical – Marques é compositor, professor de música, arranjador e instrumentista, além de vencedor de inúmeros festivais de música. Neste arranjo, ele priorizou o delicado som dos violinos e deixou muita gente sem fôlego na plateia. Bravo!

Logo, viria o terceiro tema instrumental da noite, “Sétima no Pontal”, belíssima canção composta por Renato Borghetti e Véco Marques. A canção foi arranjada por Arthur Barbosa, que toca violino na Orquestra e é um clássico da canção gaúcha com seus mais de seis minutos que, claro, ficaram conhecidos na interpretação de Borghetti.

Hora de “Quando lembrares de mim”, de Maurício Marques e Adão Quevedo, com a chegada de Victor Hugo ao palco! No circuito internacional, Victor Hugo já representou o Brasil por três vezes no Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, respectivamente em Moscou, na Coréia do Norte e em Cuba. Victor Hugo foi revelado nos festivais nativistas e premiado muitas vezes como melhor intérpete e será lembrado como a voz de “Desgarrados”. O segundo solista convidado desta noite veio cantar a cantiga de amor que faz sucesso na voz de Luiz Marenco.

Não por acaso, “Desgarrados” é a música seguinte do repertório. O maestro Tiago Flores prometeu que o arranjo seria de chorar e, de fato, foi um dos grandes momentos da noite. A música foi a vencedora da décima primeira Califórnia da Canção de 1981, e fala de ex-trabalhadores do campo que moram hoje na cidade em condições pífias e, claro, sentem aquela saudade da vida simples que levavam no interior. Infelizmente, uma realidade cada vez mais forte – a letra ainda é atualíssima… E não há gaúcho que não cante o refrão “mas o que foi/nunca mais será”, na triste música de Mário Barbará e Sérgio Napp.

Victor Hugo: pura emoção - Imagem: Marcos Massa
Victor Hugo: pura emoção – Imagem: Marcos Massa

“Pampa de Luz”, de Pery Souza e Luiz de Miranda, foi a canção seguinte e a deixa para Victor Hugo mostrar, mais uma vez, toda a emoção que o consagrou como uma lenda dos festivais de música nativista. Uma curiosidade: “Pampa de luz” já foi gravada por Kleiton e Kledir Ramil, que são primos do compositor Pery, que fazia parte dos Almôndegas. A banda ficou conhecida nacionalmente por gravar música tradicionalista gaúcha com uma sonoridade mais pop. Como “Pampa De Luz”, que mostra bem a vertente mais urbana da música nativista representada com maestria por Victor Hugo.

Então, era deixar a emoção aflorar com “Semeadura”, composta por Vitor Ramil e José Fogaça, uma milonga com letra repleta de esperança. A música foi gravada por Vitor Ramil em seu primeiro disco, “A paixão de V segundo ele próprio” e, claro, contém sua marca registrada: o violão milongueiro. A letra esperançosa caiu no gosto da cantora Mercedes Sosa, que tornou a linda canção conhecida na América Latina. A mensagem de povo guerreiro combina com o ufanismo dos povos latino-americanos e emociona mais uma vez.

Para quebrar o momento melancólico, uma canção alegre e também clássica, acompanhada pela plateia com palmas e cantoria. “Xote da amizade”, com criativo arranjo de Rodrigo Bustamante e composta pelo mestre Mário Barbará. Grande momento!

A força de Marenco - Imagem: Marcos Massa
A força de Marenco – Imagem: Marcos Massa

Em seguida, Marenco emendou com “Espera”, que começa com solo de violino do bielorusso Vladmir Romanóv, um dos baita músicos da Orquestra da Ulbra. A música é uma toada e foi composta por Marenco e por Jayme Caetano Braun, o maior poeta do nativismo, nascido em 1924 e falecido em 1999.

A música seguinte foi “Meus amores”, parceria de Marenco e Braun, uma toada muito conhecida por estas plagas de muitos acordes e amores simples. O mundo fica pequeno perto do arranjo de Daniel Wolff e da poesia de Jayme Caetano Braun, nosso payador (uma espécie de repentista das nossas bandas gaudérias). Muita gente no Salão de Atos da Ufrgs canta junto com Marenco e, nessa altura do campeonato, o gritedo e as palmas estão mais do que liberados. Virou quase uma bailanta!

A última música do show é “Querência, tempo e ausência”, também de Marenco e Braun, com delicado arranjo de cordas de Iuri Corrêa. Para fechar a noite, “Quando o verso vem pras casas”, interpretada pelos três solistas, depois de histórias relembradas e aplausos mil. Quatorze anos depois de ter sido composta por Marenco e julgada por Victor Hugo num festival, eles cantam-na juntos.

O público pediu, aplaudindo em pé, e ganhou um super bis: “Quando o verso vem pras casas”, cantada pela maioria dos presentes em uníssono. Impossível não se emocionar!

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