Os carros do futuro estão chegando

O Estado de S. Paulo

 

Foi a maior CES da história: 180 mil pessoas vieram a Las Vegas tornando a principal feira de tecnologia do planeta o segundo maior evento anual da cidade. Perde, apenas, para o ano novo. Nos hotéis, há quem reclame. É um público diferente. Não joga, bebe pouco. Vegas não está acostumada, mas a feira segue acontecendo. Em 2018, a CES esteve, definitivamente, centrada nos carros do futuro. Presentes desde o primeiro impacto. De longe, bem antes de chegar ao Centro de Convenções, era possível ouvir o barulho de derrapagem dos BMW, numa demonstração de corrida na pista em frente ao galpão.

 

A Lyft, concorrente da Uber, pôs carros autônomos para quem desejava corridas para certos pontos. Havia um motorista, mas ele não tocava no volante. O espaço dedicado aos veículos foi quase todo o braço norte do grande centro – um terço do lugar. Não estavam só montadoras por lá. Empresas que fabricam lidars – os sensores antes comuns em aviões e que são fundamentais em carros que dirigem sozinhos. Intel e Nvidia, fabricantes de processadores, voltam-se para este mercado. Google e Amazon disputando espaço na cabine para seus assistentes digitais por voz.

 

Ainda assim, o ponto é simples. Em 2018, os veículos com autonomia de nível 2 começam a se proliferar. Os de nível 3 estão chegando. A cultura se transforma no 4.

 

O Brasil não está de fora. Um dos anúncios feitos durante a feira pela Nissan foi de que seu Leaf chega ao país no ano que vem. É um veículo com autonomia de nível 2 e o carro elétrico mais vendido no mundo. Elétrico puro, não híbrido. Carrega na tomada como o celular ou o notebook. Não leva gasolina. Trezentos mil já estão nas mãos de consumidores.

 

O nível 2 ocorre quando o carro assume uma série de funções do motorista. O computador mantém o automóvel na faixa, está de olho na distância de quem está à frente e atrás e assim regula a velocidade. São carros muito mais seguros, mas não dispensam seres humanos na direção.

 

O nível 3 é delicado – e há um debate em curso a seu respeito. Tesla e Audi prometem colocar veículos no mercado mundial este ano. Em condições ideais, permitem que o motorista largue o volante. Mas exigem que fique atento – se o sistema detectar risco, ele precisará assumir o volante. A Waymo, empresa da holding Google que produz sistemas de autonomia, diz que pretende começar no nível 4. Acha perigoso permitir que a pessoa se distraia e, ao mesmo tempo, peça atenção repentina. A Ford é outra que pretende pular este degrau.

 

No nível 4, a autonomia é plena dadas certas condições. Dentro de uma cidade, numa rota conhecida, quando não há chuva. O dono do carro pode se distrair à vontade e tem tempo de assumir quando as condições mudarem.

 

No nível 5 o bicho vira outra coisa. O aparelho sequer carece de volante.

 

Até o ano passado, tudo soava um pouco como ficção científica. Em 2018 entramos neste espaço de mistério. Carros que ajudam na direção evitando acidentes passam a se tornar comuns. Estão, até, para chegar ao Brasil. Os primeiros modelos que permitem esquecer o volante estão prometidos para já. E a autonomia real está ali na frente. Do ponto de vista da tecnologia, a menos de uma década de distância. (Se os governos deixarão, se o público vai querer, esta é outra história).

 

Tecnologia tem mesmo um quê de mistério. Por duas horas, na quarta, a CES ficou sem luz. A maior feira dedicada ao tema no mundo. Simplesmente parou. Nunca o Centro de Convenções precisara de tanta energia. O futuro do transporte está logo ali. E, ainda assim, parece distante. (Só parece).

 

Carros que ajudam na direção evitando acidentes passam a se tornar comuns. (O Estado de S. Paulo/Pedro Dória)