Renault Twizy é remédio contra a solidão

Jornal do Carro

 

Ele é tão pequeno que, no máximo, leva apenas mais uma pessoa, além do motorista. E o eventual passageiro fica no assento traseiro. Não há rádio nem conexão de celular por Bluetooth. Ainda assim, você tem a sensação de que nunca está sozinho: é impossível sentir solidão ao volante do Renault Twizy.

 

Basta sair com o carrinho elétrico nas ruas para o assédio começar. Assim que o semáforo fecha, prepare-se: é quase certo que o ou a motorista do lado vai perguntar se é elétrico, quanto custa, qual a autonomia… As perguntas tendem a se repetir no próximo farol vermelho. E vêm até com o carro em movimento: em plena Marginal Pinheiros, o motociclista repentinamente perdeu a pressa, aliviou o acelerador, diminuiu o ritmo e passou a conversar normalmente, como se fosse o amigo em conversa na mesa do bar: “Que da hora, é elétrico, vai a quanto por hora?…”

 

E você ali, repetindo as respostas quase padrão: “Sim, é elétrico, autonomia de mais ou menos 60 quilômetros, ainda não está à venda no Brasil…”.

 

Poucas vezes um carro chamou tanta atenção como o pequeno Renault Twizy, um quadriciclo com capota fechada de 2,34 m de comprimento por 1,24 m de largura. Ou seja, quase nada. Nas ruas, um Onix parece um SUV, um SUV parece um ônibus. Porém, apesar das diferenças, não há razão para intimidação. E sobram motivos para interação.

 

Além de atrair a curiosidade pelo tamanho, o Twizy também conquista pela simpatia. Ele é tão pequeno e tem linhas tão simpáticas que passa a ser protegido pelos demais motoristas. Ao volante do Twizy, você não sente a hostilidade cotidiana entre motoristas, motociclistas, caminhoneiros e ciclistas. Os carros não “colam” nem tiram fina de você, ainda que você esteja num ritmo mais lento. Em vez disso, as pessoas estão mais interessadas em puxar conversa, ou, se isso não for possível, pode ter certeza que sempre haverá um celular apontando para o carro, filmando e fotografando.

 

Tanta interatividade ocorre porque você fica quase tão exposto como em uma moto, só que sem capacete. O Twizy tem teto, mas não tem janelas laterais. Então, os motoristas concluem que você está disponível para conversas.

 

Tirando o fato de que você esquenta no calor, esfria no inverno e se molha na chuva, o Twizy é diversão garantida. Pisando firme no acelerador, ele sai com agilidade e chega a 80 km/h. Nessas condições, a direção mecânica fica um pouco sensível, como num kart. outra semelhança com os karts está no fato de que este pequeno francês chacoalha bastante sobre pavimentação irregular. O motivo são as rodas pequenas (aro 13), muito próximas entre si, e a suspensão firme. Por isso, é recomendável ficar de olho nos buracos, para desviar deles. Caso contrário, é solavanco na certa. Afinal, eles podem engolir os pneus finos.

 

As portas abrem-se para cima, como tesoura (à moda dos Lamborghini), e, a despeito das dimensões externas econômicas, o motorista tem mais espaço nele do que no Fiat Mobi ou no Renault Kwid, por exemplo.

 

Há cintos para os dois ocupantes, e pouquíssimos botões: no painel, há um botão para ir para frente e outro para trás. Apertando-se ambos, o Twizy fica no neutro. Afora isso, só as alavancas de iluminação e limpador. O pequeno display digital informa velocidade, dados do computador de bordo (autonomia, hodômetro, etc.) e carga da bateria. Nesse caso, o motorista pode acompanhar se está gastando a energia (em acelerações) ou acumulando (o que é feito quando se pisa no freio e quando se tira o pé do acelerador).

 

Falando em freio, é preciso pisar no pedal com disposição, porque, apesar dos discos nas quatro rodas, não há assistência. Por isso, o “servo freio” é o pé do motorista.

 

No entanto, é fácil se acostumar com todas as particularidades do carrinho – o que inclui até o assédio.

 

E para quem achou que o modelo pode ser uma boa opção para São Paulo, aqui vai um balde de água gelada:

 

A Renault não tem planos de vender o Twizy no Brasil, pelo menos enquanto não forem definidas as regras do novo regime automotivo, o Rota 2030, previsto para entrar vigor no ano que vem.

 

Como o governo ainda não prevê nenhum incentivo fiscal para venda de veículos elétricos, ele chegaria aqui por cerca de R$ 100 mil. Na Europa ele custa 7 mil euros. Assim, por mais que alguém goste de conversar enquanto aguarda o semáforo abrir, dificilmente o modelo conseguiria compradores. (Jornal do Carro)