Após quase ir à falência, Usiminas reage e aposta na recuperação da economia

O Estado de S. Paulo

 

Quase três anos após passar por uma das piores crises de sua história, correndo o risco de ir à falência, a Usiminas dá sinais de reação. Em abril do próximo ano, a siderúrgica deve religar seu alto-forno na unidade de Ipatinga, no Vale do Aço, em Minas Gerais, voltando a operar a plena carga, com a aposta de que a economia brasileira poderá engrenar de vez. A companhia também aumentou a produção de minério para exportar para o mercado asiático.

 

Considerada um dos símbolos da indústria nacional, a Usiminas tenta se afastar de um passado recente marcado por uma forte turbulência financeira que abateu a empresa a partir de 2015 – quando o País também entrou em uma de suas maiores recessões e os preços internacionais do minério de ferro afundaram, comprometendo siderúrgicas de todo o mundo. Em meio a essa tempestade, a Usiminas protagonizou uma das maiores disputas societárias em curso no Brasil, arranhando ainda mais imagem do grupo.

 

“O pior ficou para trás”, disse Sérgio Leite, presidente da Usiminas, ao Estado. A recuperação dos setores automotivo e de linha branca tem ajudado a puxar os resultados do grupo este ano. O executivo afirmou que a companhia voltou a fazer planos, vai antecipar o pagamento de amortização de parte de suas pesadas dívidas, que somam R$ 6,8 bilhões, e está otimista em relação a 2018. Mas ainda não há euforia. Segundo Leite, não há previsão de religar os altos-fornos da unidade de Cubatão (SP) antes de 2020.

 

Para religar o alto-forno de Ipatinga (que foi desligado em 2015), a companhia está investindo cerca de R$ 80 milhões em manutenção de equipamentos. Foram contratados nos últimos meses 500 trabalhadores, dos quais 400 temporários.

 

A Mineração Usiminas (Musa), que voltou a ativar duas unidades de tratamento de minério nos últimos meses, também admitiu 400 pessoas e faz planos para sair de uma produção de 2,4 milhões de toneladas este ano para 6 milhões de toneladas a partir do primeiro trimestre de 2018. “Boa parte vai para o mercado asiático”, afirmou Leite.

 

A contratação ainda é tímida perto do que o grupo já dispensou – entre 2014 e 2016 foram cortados mais de 4 mil funcionários, período mais agudo da crise da empresa.

 

Histórico da crise

 

A fase de “deterioração dos resultados” da empresa começou a partir do quarto trimestre de 2014 e se arrastou ao longo de 2015: a empresa registrou uma série de prejuízos consecutivos e a crise da empresa atingiu o pico quando o grupo passou a ter geração de caixa negativa, com o risco de entrar em recuperação judicial. Para piorar a situação da empresa, os dois principais acionistas do bloco de controle – o grupo ítalo-argentino Ternium/Techint e a japonesa Nippon – tornaram público um litígio que se arrasta até hoje. Procurados, não comentam.

 

Uma trégua entre os dois maiores acionistas e outro importante sócio, a CSN, de Benjamim Steinbruch, que também entrou na disputa, foi dada no primeiro semestre de 2016 quando os três se uniram para fazer um aporte de R$ 1 bilhão na companhia, que corria o risco de falir, lembrou Leite. Essa etapa foi batizada de fase de “sobrevivência”, onde vários ativos foram colocados à venda, como a Usiminas Mecânica (nenhum foi vendido). O movimento de “construção de resultados”, segundo Leite, começou a ser implementado este ano, após a companhia voltar ao azul. “Estamos na fase de reposicionamento da Usiminas.”

 

Para Otto Nogami, do Insper, o atual momento do País requer cautela e pode atingir as indústrias. “A aposta da Usiminas está calcada na recuperação da economia, que ainda não se consolidou. Qualquer passo em falso, pode colocar tudo a perder.”

 

Valorização

 

As ações da Usiminas na Bolsa tiveram forte valorização este ano, enquanto as de suas concorrentes – CSN, de Benjamin Steinbruch; e Gerdau, apresentaram desempenhos diferentes no mesmo período. Na sexta-feira, o valor de mercado da Usiminas atingiu R$ 12,38 bilhões, alta de 56% no acumulado do ano, de acordo com levantamento da Economática. A CSN, de Benjamin Steinbruch, está avaliada em R$ 10,08 bilhões, queda de 31,5% no mesmo período. Já a Gerdau vale R$ 17,955 bilhões na Bolsa, aumento de 7% neste ano.

 

Para Pedro Galdi, analista de mercado da Magliano Corretora, a recuperação da Usiminas em relação às outras siderúrgicas reflete a área de atuação da companhia e a maior disciplina financeira da empresa nos últimos meses. Como produtora de aços planos, a Usiminas se beneficiou da recuperação do setor automotivo, um dos principais compradores desse tipo de matéria-prima. Já CSN e Gerdau produzem aços longos, utilizados pelos setores de construção civil, máquinas e equipamentos, que ainda não reagiram.

 

Relatório do BTG Pactual, divulgado no fim de novembro, reconhece a melhora operacional da Usiminas, mas ainda vê desafios para o grupo pela frente. (O Estado de S. Paulo/Mônica Scaramuzzo)