Gênio indomável, Musk quer ser o novo Steve Jobs

O Estado de S. Paulo

 

Gênio, playboy, bilionário, filantropo e inconstante. O empreendedor sul-africano Elon Musk não é um herói dos quadrinhos, mas chega perto de ser o Tony Stark da vida real. Dono de uma fortuna avaliada em mais de US$ 13,3 bilhões, Musk é um empreendedor meticuloso e tem ambições que vão até a Lua. Ele prevê que todos carros dispensem motoristas até a próxima década, quer levar pessoas para dar uma volta turística no espaço em 2018 e, até 2025, pretende levar um grupo de pessoas para viver em Marte.

 

Para muitos, Musk está se tornando o que Steve Jobs, cofundador da Apple, foi na década de 2000: um gênio da tecnologia que arrisca sem medo de errar. Depois de vender sua parte na empresa de pagamentos PayPal por US$ 165 milhões, em 2002, o executivo usou parte do dinheiro para comprar a fabricante de carros Tesla por US$ 65 milhões. O restante ele usou para fundar a startup de exploração espacial SpaceX. A atitude chocou o mercado na época, mas hoje já serve de inspiração.

 

“Nenhum grande executivo de tecnologia faria o que Musk fez após vender o PayPal”, afirmou, em entrevista ao Estado, Ashlee Vance, jornalista norte-americano que escreveu a biografia autorizada Elon Musk: Como o CEO bilionário da SpaceX e da Tesla está moldando o nosso futuro (Editora Intrínseca). “Ele colocou todo seu patrimônio em risco para ir atrás de seu sonho. No começo, parecia que tudo ia dar errado. A Tesla e a SpaceX estavam à beira da falência e Musk, desacreditado. Mas ele não desistiu e virou o jogo.”

 

Velocidade máxima. Musk, no entanto, não projeta computadores ou smartphones como Jobs. Sua principal aposta é a fabricante de carros elétricos e parcialmente autônomos Tesla. Com um valor de mercado de US$ 42 bilhões, a marca já vende o Model S e Model X – com preços que chegam a US$ 130 mil. São carros que dispensam motorista em estradas, além de não dependerem de gasolina, só de energia elétrica.

 

“A Tesla tornou os carros elétricos atraentes”, afirma o diretor de pesquisas de mobilidade da Gartner, Martin Birkner. “A empresa colocou telas sensíveis ao toque de 12 polegadas no painel e os carros são belos modelos esportivos, desejados por todo mundo. Dirigir um carro elétrico, após a Tesla, deixou de ser um experimento para ser uma experiência.”

 

Musk ainda tem a vantagem de ser um dos responsáveis – junto com seus primos – pela empresa SolarCity, fabricante de painéis solares para automóveis e casas. Se o sonho do executivo se concretizar e o carro elétrico se tornar popular, sua empresa pode reinar absoluta no setor de abastecimento elétrico por meio de placas de energia solar. Não é à toa que a Tesla, em novembro, comprou a SolarCity por US$ 2,6 bilhões.

 

Apesar dos ânimo com a Tesla, o setor de carros elétricos e autônomos ainda é incerto. Isso fez a Tesla quase falir em 2008 e, desde sua abertura de capital em 2010, a empresa não registrava lucro. O primeiro resultado positivo veio no terceiro trimestre de 2016, quando a fabricante teve lucro de US$ 21,9 milhões. Na última sexta-feira, a empresa levantou US$ 1,2 bilhão em uma nova oferta de ações para viabilizar o seu novo modelo de carro, o Model 3.

 

“A Tesla vendeu apenas 90 mil carros desde sua fundação, o que é muito pouco perto das montadoras tradicionais”, afirma Birkner, da Gartner. “Com o Model 3, que será um carro mais popular, a empresa vai mostrar se conseguirá competir, de fato, no mercado automotivo”

 

Ao infinito e além. Além de ocupar-se da Tesla, Musk passa boa parte do tempo com a cabeça no mundo da lua. Sua “menina dos olhos” é a SpaceX, startup fundada em 2002 que mira a exploração espacial. A empresa já deu alguns passos nessa direção: testou alguns foguetes e fechou um contrato de US$ 1,6 bilhão com a Nasa, agência espacial norte-americana, para levar suprimentos à Estação Espacial Internacional.

 

Além disso, Musk prometeu que, em 2018, começará a fazer turismo espacial, levando pessoas para dar uma volta ao redor da Lua. Este, porém, parece ser apenas um teste para seu principal projeto: colonizar Marte. Parece ficção científica, mas o executivo planeja levar pessoas para viver no planeta vermelho até 2025. Ele mesmo já disse que quer viver e morrer em Marte. “E não pode ser no pouso”, brincou o executivo, em seu perfil no Twitter.

 

“A SpaceX quer mais do que apenas lançar foguetes, quer dar mais opções de moradia para as pessoas”, explica o consultor do setor espacial, James Muncy, em entrevista ao Estado. “Teremos astronautas e cientistas visitando proximidades de Marte e até morando lá. Se os planos de Musk derem certo, teremos um futuro melhor.”

 

Os objetivos de Musk com a SpaceX vão além do lucro. “Ele quer, de verdade, construir uma rota de fuga para a humanidade”, diz Vance, que conviveu por três semanas com Musk e conversou com mais de 300 pessoas próximas a Musk.

 

Velozes e Furiosos. Assim como na ficção Tony Stark arriscou seu império para ser um super-herói, Musk também faz apostas perigosas e que podem colocar em risco suas empresas e, até mesmo, sua fortuna. Uma delas é o Hyperloop, um sistema de transportes em cápsulas a vácuo que ele afirma ser duas vezes mais rápido que um trem-bala e dez vezes mais barato. Seria como assoprar um canudinho com pessoas dentro.

 

Musk elaborou todo o projeto sozinho e fez uma parceria com a startup Hyperloop One. Hoje, ela faz testes para usar o tubo para conectar as cidades de Los Angeles e São Francisco, separadas por 616 quilômetros. Há o temor entre os investidores da Tesla, porém, que Musk decida focar toda a sua energia – e dinheiro – na ideia “maluca”.

 

Em janeiro, o executivo começou a cavar um túnel no meio de Los Angeles após enfrentar um grave engarrafamento. “Não sei bem o que estou fazendo”, afirmou o executivo no Twitter, em resposta aos questionamentos de seus seguidores sobre o assunto.

 

“Musk é corajoso nas apostas e, por isso, se tornou um símbolo da indústria de tecnologia”, diz Vance. “Ainda assim, suas tecnologias não resolverão os maiores problemas da humanidade. Ele é apenas uma peça curiosa de um imenso quebra-cabeça.”

 

Viciado em trabalho, Musk tem vida pessoal conturbada

 

Depois de completar seus estudos na África do Sul, Musk partiu para o Canadá, aos 17 anos. Foi lá que o jovem conheceu Justine Wilson. “Elon me chamou para ir tomar sorvete. Após algumas horas, ele apareceu em casa com dois sorvetes. Ele não aceita ‘não’ como resposta”, disse Justine para a revista Marie Claire, em 2014. Eles se casaram e partiram para os EUA. Lá ele fundou suas primeiras startups: a segunda deu origem ao serviço de pagamento PayPal. Nos anos seguintes, Musk ficou aficionado por trabalho, deixando a família de lado, o que culminou na separação. “É muito difícil conviver com Musk. Bilionários são pessoas obcecadas e difíceis de lidar”, resumiu Justine à revista. Hoje, ele é casado com a atriz Talulah Riley, com quem também vive uma relação instável. (O Estado de S. Paulo/Matheus Mans)